É comum que, para marcar certos acontecimentos importantes da história, se fale de “eras”. Estamos acostumados com a “era industrial”, a “era atômica”, a “era espacial” e tantas outras que indicam a comoção que esses eventos conseguem provocar.
Mas essa comoção geralmente não é muito duradoura. As descobertas mais importantes em qualquer campo ocupam a atenção por um tempo, chegam a determinar uma era, e depois as ondas de novidades aqui e ali apagam um fato da memória para substituí-lo por outro, que, por sua vez, causa comoção até que chegue seu momento de obscurecimento.
As eras se sobrepõem umas às outras, e suspeitamos que haja uma competição clara para destacar e ocupar a atenção de povos e governos. Tanto é verdade que não podemos colocar datas fixas nesses períodos históricos; no máximo, podemos localizá-los dentro de um século ou de algumas décadas particulares dentro de um século.
Se disséssemos que agora estamos na ‘era da informação’, estaríamos relativamente corretos. Em parte, porque esta “era” compartilha seu auge com outras que ainda permanecem no topo da popularidade. E em parte porque não conseguimos estabelecer em detalhes o nascimento desta modalidade nem suas características próprias. É curioso que nosso mundo, tão amante das ciências exatas e das definições, tenha que se conformar com tantas ambiguidades, disfarçando-as de precisões.
O que é a informação e desde quando se informa?
Desde que surgiu a era da informação, abundam explicações sobre o que é a informação. Longe da simples tarefa de se dar conhecimento das coisas, elaboram-se mil teorias sobre quais fatos se devem dar a conhecer, como, quando, para quem, por quais meios. Enfim, não pecamos se nos atrevemos a oferecer uma nova exposição sobre o mesmo tema, mesmo que não seja totalmente nova nem totalmente velha.
Concordamos que informar é colocar algo ao conhecimento de alguém. Concordamos também que o modo de informar tem variado consideravelmente ao longo do tempo, mas também é verdade que sempre existiram os sistemas de informação, embora os atuais sejam mais rápidos e tenham mais alcance; o que falta discutir é se são mais perfeitos, mesmo que sejam mais aperfeiçoados.
Em épocas antigas, quando ainda não existiam os escritos ou a difusão oral e visual das notícias por meio de dispositivos específicos, mais cedo ou mais tarde se chegava a saber de tudo, a menos que se vivesse no último rincão do mundo. E isso também acontece agora, ou seja, existem rincões miseráveis ou privilegiados onde não se sabe exatamente o que acontece fora desses confins.
Viajantes, guerreiros, peregrinos, menestréis, poetas, embaixadores oficiais ou correspondentes discretamente mascarados, os acontecimentos circulavam à medida que eles chegavam a pequenas vilas e cidades, a cortes e tabernas. Então, tal como hoje, a informação não era pura, porque tampouco eram puras as fontes nas quais os transmissores bebiam, nem sua própria personalidade podia evitar acrescentar sal e pimenta às coisas que sabiam, às vezes, por interesses especiais e, às vezes, simplesmente para se fazerem notar pelo público. Com mais ou menos detalhe, quase como agora.
São os meios atuais que variam a forma, mas não o espírito da informação. Desde a criação da imprensa até aqui, as publicações se multiplicaram, apareceram rádios, televisores, gravadores, vídeos, telefones, computadores, fax e outras aparelhos tão maravilhosos que quase parecem mágicos. Eles oferecem novas possibilidades, é verdade. Mas variou o homem que dispõe de tais aparelhos em relação àqueles homens que simplesmente percorriam caminhos?
Atualidade e liberdade na informação
Não é fácil estabelecer denominadores comuns, porque os meios de informação não podem atuar da mesma maneira. Em países onde predominam regimes tirânicos ou onde, sem tiranias à vista, existe, no entanto, o controle das notícias, a informação estará sujeita a determinados interesses e a cortes sistemáticos.
Mas o avanço das democracias incidiu fortemente no emprego generalizado dos meios de comunicação e na difusão das novidades. Aparentemente, há mais liberdade do que nunca para expor o que acontece no mundo, para elogiar ou criticar, para concordar ou discordar, para clamar por justiça ou pedir proteção. É fácil fazer com que o público se posicione a favor ou contra situações, pessoas, governos, atos ou palavras. A informação tornou-se uma forma de expressão livre, sim, mas ao mesmo tempo assumiu o perfil de uma das armas mais perigosas. A informação pode mover as massas, mas quem move a informação tem mais poder do que ninguém, porque pode promover reações em cadeia incontroláveis.
A história repete muitos de seus eventos, com as inegáveis variações de matizes, e um elemento inevitável, infelizmente para quem sofre com isso, é a guerra. Muito se tem falado dessa explosão de violência ou de heroísmo, de confronto ou de solidariedade que encheu tantas páginas na vida da humanidade.
A guerra continua em pleno apogeu e, na atualidade, criou novas armas de combate. Precisamente, os meios de comunicação constituem uma das armas mais eficazes pela sutileza com que agem, porque não parecem armas, pelo contrário, assumem o aspecto de libertadores.
Mas a informação, dependendo de como é usada, pode prejudicar mais do que uma guerra, mais do que a pior das epidemias. E nunca estaremos totalmente seguros de que não há aqueles que se valem do acesso aos meios de comunicação para direcionar a opinião pública em outro sentido. Ontem se pensava de uma forma, hoje de outra, e amanhã quem sabe… Na ausência de uma verdadeira formação da inteligência, a simples opinião pode balançar como uma pipa ao vento.
Formação e informação
O prodigioso progresso dos meios de comunicação poderia ter se constituído em uma panaceia para a humanidade. Se tivessem se dedicado a difundir educação, a expandir conhecimentos, se tivessem posto à disposição das pessoas o que os sábios mais destacados pensaram e criaram, esses meios teriam cumprido uma missão formativa e não simplesmente informativa. O amplo espectro que alcançam e a quantidade de público que atingem, abrangendo todas as idades e condições, teriam permitido torná-los uma verdadeira escola de formação digna do desenvolvimento civilizatório.
Mas não. A tarefa foi limitada ao estritamente informativo e, em alguns casos, ao tristemente deformador.
Vejamos o que acontece em muitas ocasiões:
Informação escassa
Embora poucos se atrevam a mencionar cortes ou censuras, a verdade é que existem. Mas, uma vez que são previamente aceitos e concertados, às massas chega o que se quer que chegue, junto com todo um esquema de argumentações destinadas a preencher as lacunas que de outra forma seriam evidentes.
Informação contraditória
Com tantos meios de comunicação atuando ao mesmo tempo e em todo o mundo, não é de estranhar que as opiniões expressas por uns e outros não coincidam em nada, gerando confusão no público. Resultado: tomar partido das coisas sem saber bem por que ou desinteressar-se pelas coisas que, de certa forma, dizem respeito a todos.
Desinformação manipulada
Às vezes, o que se lança no mercado é o oposto da realidade. Não se trata de informar pouco ou muito, mas de criar outras ideias bem diferentes do que acontece por trás das mil cortinas montadas no mundo. Por que se manipula a informação? Porque a liberdade é boa até que deixe de sê-lo, ou até que comece a incomodar, ou até que se descubra que a liberdade também leva à deformação das verdades nesse amplo marco em que todos podem fazer o que quiserem.
Informação fora de lugar
A massificação de informações permite que a todo momento, e por algum meio, se divulguem notícias de toda índole, sem importar quem vai receber essas notícias. Nossos filhos absorvem uma infinidade de indignidades como se fosse a coisa mais natural do mundo; a hora das refeições coincide com noticiários que expõem as maiores atrocidades com palavras comedidas e imagens assustadoras; antes de dormir, recolhemos o resumo dos desastres diários e nos levantamos com as previsões de novas catástrofes.
Escândalo e exagero
A competição exige que o produto informativo seja atraente. Portanto, é preciso dar-lhe realce a todo custo. Nada mais simples do que exaltar a morbidez latente nas pessoas, e isso já se conseguiu: aquele que narra o maior escândalo, aquele que pode expor a vida privada de quem quer que seja, ou obter a fotografia mais desavergonhada ou as palavras que ninguém jamais pronunciou de verdade, esse fica famoso. De uma pedra se faz uma montanha e, além disso, se assegura ter visto e escalado a montanha. De um rumor, obtém-se uma certeza, e de uma presunção, uma culpa. Que se defendam os que podem, porque sempre é mais fácil caluniar do que provar a inocência de alguém que foi crivado de insultos. Curiosamente, esse estilo de desinformação prejudica profissionais bons e honrados que, involuntariamente, se encontram inseridos no conjunto dos manipuladores e caluniadores.
Poderíamos continuar com esta lista, mas acreditamos que esses exemplos bastam para expressar a falta de formação e, ao contrário, a deformação que os meios de comunicação provocam em nosso mundo.
O alcance da informação
Embora possa parecer um elogio à censura, a motivação para o que se segue é bem diferente. Não se trata de privar as pessoas do que elas têm direito a saber, mas de educá-las previamente para que possam saber e compreender.
Com isso queremos dizer que nem todas as notícias deveriam ser divulgadas sem mais nem menos. É verdade que, ao ritmo que os tempos avançam, precisamos saber o que acontece todos os dias em todos os lugares, porque hoje estamos todos mais ou menos relacionados e o que diz respeito a uns acaba dizendo respeito a todos. Mas, daí a expor qualquer fato macabro que ocorre no mundo, há uma longa distância. É que, à força de ganhar terreno, a informação precisa ocupar espaço, e se há notícias, melhor, mas se não há, é preciso buscá-las, inventá-las ou transformar em notícia o fato mais absurdo, recorrendo aos mais baratos ardis psicológicos.
Hoje se vende violência, sexo, crime, corrupção, fanatismo… Pois bem, tudo o que acontece deve necessariamente se enquadrar nos parâmetros da moda. Não nos surpreendamos, então, que os jovens tentem imitar o que é notícia, ou que as crianças, desde muito cedo, fiquem insensíveis aos atos mais agressivos e de vandalismos. Para eles – e para muitos que já não são crianças – o herói é o bruto e o astuto, e os outros são tolos sentimentais antiquados. Até os desenhos animados exalam horror e medo, e é preciso buscar carinho nos extraterrestres, como se na Terra essa fonte tivesse se esgotado ou não fosse coisa de humanos.
Já é bastante desgraça alguns fatos que ocorrem para fazer deles propaganda desmedida nos meios de comunicação. Aqui não vale o argumento de que se mostram para servir de exemplo. Ao contrário, em um mundo onde a moral profunda prima pela ausência, o que se toma como exemplo não é o delito, para preveni-lo, mas o delinquente, para imitá-lo. Mostram-se os crimes, mas não as punições; divulgam-se os horrores, mas não as soluções; sabe-se do mau que ontem era bom e do bom que antes era mau, com o que não se sabe quem é quem, ao contrário, se percebe a possibilidade de ser qualquer coisa para se destacar.
Consideramos que a informação, como todas as atividades humanas, tem um limite, e não um limite imposto pela censura de certas mentalidades, mas pela própria vida. Todos nós, ao longo do dia, temos horas para compartilhar e mostrar, e horas para estar a sós, horas de intimidade. Embora a moda imponha a grosseria de tornar públicas todas as ações, um banheiro nunca será a mesma coisa que uma biblioteca e um chuveiro nunca será igual a um concerto. Um livro, um pouco de música, são para compartilhar; o banho é para se higienizar sem ter que mostrar publicamente cada uma das partículas de sujeira que arrancamos de nosso corpo.
Na verdade, o que queremos é informação melhor, boa, válida, que constrói, que nos ajude a viver e a nos superarmos. Gostaríamos que a cultura ocupasse tanto espaço quanto a trivialidade, pois não podemos fazer com que ocupe todo o espaço; gostaríamos que o bem fazer e o bem dizer fossem mais prestigiosos do que a grosseria, que os sentimentos refinados tivessem mais lugar do que a bestialidade e a crueldade. Sim, gostaríamos de tudo isso. E o melhor é que temos os meios para fazê-lo.
Embora às vezes nos esqueçamos, estamos na era da informação.
Delia Steinberg Guzmán
Fonte: https://www.acropole.org.br/reflexoes-filosoficas/a-era-da-informacao