É importante destacar que este artigo não tem a intenção de ser um estudo científico ou psicológico, nem pretende abordar de forma exaustiva ou definitiva o tema proposto para esta fase da jornada. Seu propósito é servir como um guia para orientar o conteúdo que será desenvolvido durante o encontro ao vivo da sexta edição da jornada online, em 2024.
Em cada momento de nossa existência, somos chamados a fazer escolhas. Sejam pequenas ou grandes, conscientes ou influenciadas por condicionamentos, essas decisões refletem nosso nível de consciência e a compreensão que temos sobre a vida e sobre nós mesmos. Nossas escolhas refletem, ainda, o quanto estamos interessados em nos conhecer e saber quem realmente somos.
Afinal, quem é esse ser humano que acredita estar consciente de si mesmo, mas que mal conhece os aspectos mais superficiais de sua própria personalidade, distante ainda de alcançar as camadas mais profundas do próprio ser? Quem é esse ser que mal consegue agir com um mínimo de consciência, tão frequentemente dominado por instintos emocionais? Um ser humano que ainda não se encontra plenamente humanizado. Que teme sua própria liberdade, mas acredita ser livre, enquanto, na realidade, é prisioneiro de uma “liberdade” que o escraviza cada vez mais, por meio de inúmeros vícios. Um ser humano que teme confrontar-se com sua natureza espiritual mais profunda.
O que se entende, afinal, por autoconhecimento? Será que ele se resume apenas ao acúmulo de informações sobre nossa psicologia? Certamente, não é isso, tampouco se limita ao desenvolvimento do conhecimento de si. Esse é apenas o primeiro nível, a base inicial a partir da qual se inicia uma jornada que envolve mais trabalho do que estudo. Esse processo ocorre por meio de uma auto-observação constante, da correção de atitudes e comportamentos, da elevação do nível de consciência e de um esforço contínuo para abrir espaço para a manifestação da centelha espiritual. Trata-se de uma jornada que começa com aquele incômodo chamado interno, sem que se saiba, no entanto, se algum dia terá fim.
Na Jornada de Autoconhecimento Pelos Caminhos do Tarô, chegou o momento de questionarmos nossas escolhas e como elas são feitas. O Arcano 6, A Escolha, representa o ser humano dotado de alma, livre-arbítrio, carma e destino, destacando suas profundas implicações na busca pelo autoconhecimento. Na Estação 7 da Jornada, damos continuidade aos estudos e reflexões sobre os mistérios da vida, da alma, do ser humano e da consciência. Esses estudos são realizados em conjunto com os Arcanos: O Grande Sacerdote, A Escolha e O Triunfo, proporcionando uma compreensão ainda mais ampla e integrada.
Em nossos estudos na estação passada, com o Grande Sacerdote (Arcano 5), exploramos os temas da vida e da alma. Agora, o Arcano 6 nos convida a refletir sobre a responsabilidade que temos em relação às escolhas que fazemos, diretamente associada ao exercício do livre-arbítrio.
O Arcano 6 do Tarô, tradicionalmente chamado de ‘Os Enamorados’ ou ‘A Escolha,’ é um símbolo profundo no caminho do autoconhecimento, representando um ponto decisivo em que as escolhas precisam ser feitas, revelando a complexidade do livre-arbítrio. Esse arcano nos remete ao momento em que nos deparamos com uma encruzilhada interna, onde é necessário optar por caminhos que podem conduzir ao crescimento ou à estagnação, guiados pela consciência ou influenciados pelos desejos emocionais.
No contexto do autoconhecimento, o Arcano 6 representa o processo do amadurecimento emocional e a tomada de decisões mais conscientes. Ele desafia o indivíduo a discernir entre desejos superficiais e aspirações mais elevadas, promovendo uma compreensão mais profunda de si mesmo e da vida. Esse arcano destaca a importância de fazer escolhas com o propósito de crescimento interior, guiadas por uma conexão da mente com o coração intuitivo – uma parte essencial da jornada de autodescoberta.
Além disso, ‘A Escolha’ implica uma educação espiritual que exige do indivíduo a observação de suas tendências e padrões inconscientes. Esse trabalho não se trata apenas de seguir desejos momentâneos, mas de desenvolver a capacidade de escolher com consciência, fortalecendo o autodomínio e a verdadeira liberdade. Através do Arcano 6, o autoconhecimento se intensifica, permitindo que o buscador compreenda suas motivações mais profundas e se abra para uma forma de viver mais autêntica e alinhada com sua verdadeira essência.
No contexto do Arcano 6, ‘A Escolha,’ podemos identificar muitos aspectos da ‘Matriz‘ como o conjunto de estruturas e influências que moldam e condicionam a consciência humana, muitas vezes de forma imperceptível, limitando a verdadeira liberdade do indivíduo. Assim como na famosa analogia da ficção, esse ‘sistema’ consiste em uma rede de convenções culturais, tradições familiares e religiosas, padrões sociais e estímulos externos, além de normas e leis, que visam manter o indivíduo em conformidade, muitas vezes sem que ele perceba essas limitações. Essas influências acabam moldando comportamentos coletivos e levando o indivíduo à alienação.
Liberdade é poder dizer ‘não’. Embora essa afirmação possa parecer reducionista, ela revela um paradoxo em relação à ideia comum de liberdade como a possibilidade de fazer o que se quer. Na verdade, essa concepção frequentemente representa uma sujeição voluntária a uma escravidão ainda maior — a dos desejos, das paixões e dos sistemas que governam a consciência humana por meio de estímulos consumistas e modismos.
A verdadeira ‘escolha’ surge quando o indivíduo começa a tomar consciência desse condicionamento e a questioná-lo, permitindo-se explorar um caminho mais individual e alinhado com sua essência. Libertar-se da ‘Matrix’ significa, então, transcender as influências que nos prendem a impulsos superficiais, abrindo espaço para escolhas mais conscientes e genuinamente livres. Nesse contexto, a afirmação ‘liberdade é poder dizer não’ se encaixa como uma boa definição.
Talvez o maior medo do ser humano seja o medo da liberdade, pois ser livre implica ser ele mesmo. E aí reside o desafio – o ser humano ainda não consegue assumir integralmente sua individuação. Optar pela individuação é uma escolha, mesmo que seja um processo natural da evolução humana. Contudo, a natureza, por si só, levaria muito tempo para completar esse processo, e o ser humano foi dotado de inteligência superior, vontade e do germe da liberdade, do livre-arbítrio, o que lhe permite acelerar sua evolução consciente. Ao tornar-se autoconsciente, ele se habilita a assumir a responsabilidade não apenas por sua própria individuação, mas também a atuar como um agente colaborativo para toda a humanidade.
No entanto, esse ser humano, apesar de sua imensa ignorância e do medo de se conhecer, busca, ainda que timidamente, um caminho de libertação e amor, pelo qual aspira se elevar em consciência e se reconectar com sua essência espiritual. Em meio à ignorância e aos medos, há um impulso inato em direção à liberdade e ao amor. Mesmo que de forma ainda tímida, o ser humano aspira a elevar sua consciência e a encontrar o caminho que o reconduza à sua origem espiritual. Esse é o ponto de partida para uma nova jornada, onde, aos poucos, nos humanizamos verdadeiramente e buscamos a conexão com o sagrado que habita em nós.