É importante destacar que este artigo não tem a intenção de ser um estudo científico ou psicológico, nem pretende abordar de forma exaustiva ou definitiva o tema proposto para esta fase da jornada. Seu propósito é servir como um guia para orientar o conteúdo que será desenvolvido durante o encontro ao vivo da sexta edição da jornada online, em 2024.
A espiritualidade é nossa natureza primordial e uma dádiva divina, mas ela só é vivenciada plenamente quando nos tornamos conscientes. Aquele que está buscando esse despertar agora se coloca numa posição estranha aos que ainda não alcançaram a si mesmos. Há uma rendição resignada diante da nova consciência e do Supremo.
Essa nova forma de viver promove uma transformação profunda na maneira como nos relacionamos com a existência. É um convite para abraçar a vida com leveza e profundidade, alinhando nossas ações às leis que orientam a evolução espiritual. Demanda renunciar a desejos, hábitos e apegos mundanos e transitórios, priorizando valores e virtudes que elevam a consciência. Nesse contexto, o sacrifício deixa de ser uma renúncia amarga para se tornar uma entrega voluntária e gratificante. É a percepção de que, ao aceitar a nova realidade como ela é, alcançamos paz de espírito e serenidade na consciência.
O significado do Arcano 12 pode ser traduzido como “estar espiritualmente ancorado.” Valores antes proeminentes agora são realocados para uma posição relativa, e somente aquilo que é essencial e transcendente permanece no centro da consciência. Tudo o que é transitório passa a servir aos propósitos da nova consciência, mas deixa de ocupar o centro dos interesses, pois o ego se reduz à sua pequena significância. O Arcano 12 indica que a vida espiritual, ou seja, a nova consciência, traz uma nova visão da realidade.
A imagem da entrega incondicional ao Supremo simboliza a nova visão que surge desse processo de resignação. Para trilhar o caminho da espiritualidade enquanto estamos na vida terrena, é necessário aceitar a supremacia de uma inteligência divina que permeia e ordena todas as coisas. Isso implica uma entrega profunda e consciente, que exige o sacrifício de prazeres efêmeros e prejudiciais à elevação da consciência. No entanto, esse sacrifício não significa abandonar o mundo ou rejeitar o que é terreno, mas sim aprender a viver de forma integrada e harmoniosa, ancorado na espiritualidade.
O Arcano 12, em sua representação arquetípica, com os pés voltados para o alto e a cabeça direcionada à Terra, simboliza que seus melhores dons são oferecidos ao mundo, onde concentra sua atenção. Essa imagem reflete o que ocorre com aqueles que despertam – surge um amor profundo pela Terra e um propósito sólido de aplicar seus talentos em benefício do progresso espiritual. Esse empenho não se limita ao próprio desenvolvimento, mas se estende a todos que possam ser alcançados de alguma forma, chegando, inclusive, ao ponto de sacrificar desejos e preferências pessoais que não estejam alinhados com as demandas espirituais.
O Arcano nos remete à questão do servir. Para servir, é preciso primeiro saber qual foi o propósito assumido ao nascer – o Ser que veio com uma finalidade, um propósito. O propósito assumido conscientemente, ou proposto e até imposto a todo ser que se prepara para uma nova encarnação, é servir de alguma maneira ao progresso da humanidade. A dimensão e os meios pelos quais o serviço será realizado são relativos ao momento evolutivo de cada um, aos seus talentos e seu carma. Não importa quais sejam os meios, mas sim o serviço em si. E para servir, isto é, para cumprir o propósito assumido ao nascer, é fundamental o autoconhecimento.
Outra questão importante no quesito servir é o desapego – fazer o bem pelo bem, e não com a esperança de recompensa. Todo bem feito com vistas a obter qualquer recompensa é obra do ego; é apego. Você se desapega de uma coisa e se apega a outra. Quando o servir tem um objetivo definido, ele está mais para um plano de previdência, um investimento para obter lucro. “É preciso desfazer tanto o objeto do desejo quanto o que nos torna acessíveis ao desejo” – Corpus Hermeticum.
Na Estação 13 da Jornada de Autoconhecimento pelos Caminhos do Tarô, avançamos por uma nova etapa de estudos e reflexões sobre os Arcanos Maiores, compreendidos como um roteiro para a regeneração da consciência, que se encontra decaída e aprisionada na matéria. Essa fase crucial da jornada abrange os seguintes Arcanos: A Força Interior (11), A Resignação (12), A Imortalidade (13), A Integração (14), A Paixão (15), A Desilusão (16), A Esperança (17), O Crepúsculo (18) e A Completude (19).
Essa etapa marca um momento significativo na jornada, simbolizando a efetividade dos esforços nos trabalhos para a regeneração da consciência e promovendo uma transformação interior profunda. O Arcano 12, A Resignação, representa o instante em que ocorre a rendição e algo é sacrificado em favor de um bem maior no caminho espiritual. Esse Arcano nos convida a uma reflexão profunda sobre nossa busca interior, revelando que o verdadeiro caminho está dentro de nós. Ele simboliza o despertar espiritual, a resposta e aceitação do chamado interno, bem como a renúncia à dialética defensiva do ego — Trata-se da verdadeira iniciação espiritual.
Ser iniciado espiritualmente significa buscar a sabedoria; é estar um passo à frente dos demais. No entanto, a sabedoria só floresce no solo da paciência. A ânsia do buscador não deve se traduzir em ansiedade, desejo ou ambição, pois esses estados pertencem ao ego. Querer iluminar-se, portanto, é um desejo do ego. O verdadeiro caminho espiritual consiste numa abertura interior para que a centelha divina ilumine a consciência, e isso simplesmente acontece de forma natural quando o “discípulo” está pronto. Esse processo envolve, inevitavelmente, a desconstrução do egocentrismo.
A iluminação é a manifestação da centelha espiritual que já existe em nós, mas está encoberta pelas sombras da personalidade e do ego. Para que ela se manifeste, é necessário um ato de rendição; uma resignação total ao supremo. Os valores agora são outros, e o que importa é a vida espiritual. Todas as coisas passam a ser sagradas; não há mais separação entre o que está “em cima” e o que “está embaixo”, entre o sagrado e o profano.
Para trilhar o caminho da espiritualidade na vida terrena, é necessário aceitar profundamente a supremacia da inteligência divina e submeter-se ao sacrifício dos prazeres que dificultam a elevação da consciência, sem, contudo, afastar-se do mundo e das coisas terrenas. Trata-se de adotar uma nova maneira de viver e de se relacionar com o mundo, estando espiritualmente ancorado. Chegou o momento de libertar-se de tudo o que não é mais necessário, de todas as inutilidades que sempre pesaram no coração e sentimento de apego.
A resignação não é uma entrega passiva, mas uma escolha consciente e ativa de confiar no fluxo da vida e nas leis universais que orientam nossa evolução. Ao nos abrirmos para essa entrega, descobrimos que o verdadeiro poder reside em viver em harmonia com a espiritualidade, encontrando na aceitação e na conexão com o divino o caminho para uma existência plena de significados.
O Arcano 12, A Resignação, nos ensina que a verdadeira transformação espiritual demanda um equilíbrio entre o material e o espiritual. Não se trata de abandonar as responsabilidades mundanas, mas de realizá-las com um propósito mais elevado, guiado por valores espirituais. A resignação, nesse contexto, é uma atitude de libertação que nos ajuda a transcender o apego à personalidade e ao ego e reconhecer a sacralidade em todas as coisas. Esse despertar permite que a consciência alcance novos patamares de compreensão e paz, harmonizando nossa jornada interior com as demandas do mundo exterior.