O Reino da Alma

“Esta minha vida, o que será? Só a minha morte responderá!”

Se eu viver buscando a consciência em tudo, e experimentando a essência de tudo, viverei no reino da minha alma. E minha alma é a vida numa corrente de consciência fluindo e evoluindo na experiência espiritual na humanidade. Toda vez que eu me desconectar da fonte da consciência, minha alma dará um sinal de alerta, provocará inquietude em minha consciência e dor em meu corpo. Serei um eterno viajante por vidas e mortes, até alcançar a consciência infinita da existência eterna. E, quando vencer a todos os meus limites, e todos os limites da humanidade, serei a pura consciência viva e eterna; mais um deus no universo em infinita expansão.

A alma acorrentada por ilusões transforma sonhos em pesadelos; deixa a vida marcada por sofrimentos angustiantes, ansiedades e tristezas infindáveis. O que a alma carrega se transforma em nossa vida, reflete o progresso que fizemos anteriormente e nos dá a direção a seguir na existência. O seu conteúdo é a soma de nossas personalidades todas, mais o que estamos acrescentando agora. Uma consciência atormentada significa que a alma traz do passado registros sombrios de experiências mal conduzidas, que podem ter sido causadas por ignorância acerca da vida e de nossa evolução espiritual.

Esses conteúdos sombrios da nossa alma podem ser transformados em nossas mais poderosas forças para crescimento pessoal. Culpa não resolve nada; arrependimento pode ser bom quando nos direciona para uma mudança de atitude consciente. Mas para isso é necessário olhar para as sombras como uma parte importante dos conteúdos interiores a ser modificados. Podemos olhar e aceitar, e mergulhar fundo na parte escura da nossa alma, nos medos e culpas que carregamos e desarmar as defesas que impedem de cumprirmos com as exigências de nossa existência. Muitas vezes, o que deixamos de fazer em termos de realizações positivas para a nossa alma, é simplesmente porque temos medo de encarar o lado sombrio dela. No entanto, se observarmos melhor iremos nos dar conta de que não passam de registros impressionáveis em nossa memória. A escuridão não é um problema, o problema é não sabermos apertar, ou não encontrarmos o botão que ascende a luz. Quando olhamos para nossas sombras com amor, aceitando que somos aprendizes e os julgamentos são apenas aceitáveis em nossa própria consciência, e ninguém pode nos condenar nesse nível, fica mais fácil desfazer o peso delas, e podemos transformar esses conteúdos em sabedoria para as nossas novas atitudes.

O reino da alma é abastecido por nossos aprendizados que enriquecem toda a nossa existência. Se soubermos lidar com as riquezas que esse reino guarda, podemos transformar “vil metal em ouro”. Tudo aquilo que nos atormenta, como medo, culpa, arrependimento, remorso, pode ser transformado em amor. O amor é o elemento alquímico para qualquer transformação interior. A vida é uma corrente de consciência fluindo na alma, e da alma para o corpo, que é o instrumento da vida no mundo da matéria. As ilusões que criamos acerca do mundo material nos afastam das experiências positivas no reino da alma e deixam um rastro de sofrimentos emocionais e físicos. A matéria nos impõe limites estreitos e visão curta acerca das coisas do espírito e da existência, e o sofrimento é conseqüência da nossa cegueira por ignorância e falta de autoconhecimento. Mas podemos ampliar esses horizontes se quisermos.

Precisamos aceitar que a vida é uma constante transformação acontecendo; que vida e morte são apenas dois lados do mesmo processo. Quando a semente morre, nasce a planta, e a planta floresce, e a flor morre para transcender no fruto. E o fruto contém a semente da nova vida. O ciclo nunca é interrompido. Trazemos em nossa alma a evolução do mineral, do vegetal e do animal, e somos simplesmente animais modificados e mais evoluídos, e podemos estar conscientes do que estamos fazendo aqui. Se os dogmas dualistas estivessem certos, então nós humanos estaríamos fora dos planos divinos e não faríamos parte dessa natureza da vida. Vida e morte são apenas transcendências da mesma consciência evoluindo. Entre o nascimento e a morte, a vida oferece oportunidades de crescimento e aprendizados no reino da alma. Viver no reino da alma implica uma busca permanente pelo autoconhecimento, e este ainda é a maior carência de todo ser humano.

Eu percebo a dificuldade que muitos têm para aceitar e lidar com as coisas de seu interior. Em terapia é uma abordagem que muitas vezes ainda causa espanto e desconforto quando a pessoa é levada a refletir que ela mesma é causadora de todo o seu sofrimento. Muitos ainda acreditam que podem resolver as suas angustias apenas pelo lado de fora do corpo, com massagens, aplicações de energia, remédios, rituais, jogos de adivinhação e magias. As terapias superficiais são mais atraentes do que uma psicoterapia que vai mais fundo no âmago das questões da consciência e leva ao autoconhecimento. Todas as terapias são benéficas e necessárias, mas às vezes podem ser também rotas de fuga, ou abastecimentos fugazes, como uma carga em bateria velha. Qualquer abordagem mais profunda que ameaça transformar a zona de conforto surpreende e assusta a quem sempre deu pouca atenção à sua alma.

O medo de encarar o lado sombrio da sua alma reflete ausência de amor por si. E quando o amor não parte de uma atitude amorosa por si em primeiro lugar, tudo o que você pensa ser amor não passa de emoção e apego. Amor liberta e ilumina; emoção prende, controla e cega. Mas, se a emoção for conduzida ao centro do coração pela consciência, ela floresce em amor; então a sua fragrância se espalha sobre tudo e todos. E onde reina o amor o medo desaparece. Este é reino feliz da alma!

Luìz Trevizani - 27/02/2011