Nosso Senso de Solidariedade e a Felicidade

Nosso senso de solidariedade desperta muito mais nos momentos de sofrimento, de doença ou de tragédia, seguindo a uma lógica estabelecida pelo senso moral. Mas a solidariedade não escolhe momento nem ocasião, porquanto, por trás do sucesso momentâneo se escondem os mesmos motivadores da nossa solidariedade, só esperando pela oportunidade de ser manifestada.

Ser solidário é inerente à natureza humana, e o despeito que acorda na inveja, e contrai o sentimento igualitário da responsabilidade compartilhada, surge nos julgamentos feitos sobre as moralidades transformadas em crenças utilitárias, fruto das frustrações passadas guardadas no armário das mágoas.

Compartilhar e colaborar desperta na solidariedade – o senso da igualdade que nos coloca na relação de responsabilidade com o outro. E isso nos conduz ao aprimoramento das qualidades morais pelo senso ético.

Solidariedade é a única via sustentável perante o mundo superpovoado, com má distribuição demográfica, desequilíbrios econômicos e riquezas acumulando-se desproporcionalmente de um lado, deixando os outros lados em estado de carência e dependência. Ela é nossa relação de responsabilidade para com os outros e com a vida, em todas as suas formas de manifestação.

O mundo do século vinte e um, com tecnologias do século vinte e conhecimentos avançados das ciências desse século, especialmente no campo da física quântica, ainda é governado pela mentalidade exploradora e extrativista do século dezenove. O paradigma ainda predominante no mundo, se estabelece na ideia da competição, e orienta a mentalidade humana e as decisões das organizações na sociedade, em sua maioria. Esse sistema cria um fluxo de mão única para as riquezas, se baseia no princípio da exploração, estimando a separação e o egoísmo – “para eu ter mais, preciso tomar de alguém”. 

Eu não prego socialismo ou qualquer outro “ismo”. Não acredito que ideologias possam resolver nossos problemas atuais. Esse tempo já passou. Agora é o tempo da ação efetiva e solidária; precisamos de um conceito novo na política, que nos leva a nos curvar diante da grandeza do ser humano mais que a adoração ao ouro que ele extrai da terra. A distribuição da riqueza não se dá de modo equânime pela via do socialismo, mas pela solidariedade que oferece oportunidade a todos, compartilhando conhecimentos e colaborando para o desenvolvimento dos melhores talentos de cada um.

Esse novo paradigma, que já desperta nos corações dos novos empreendedores, orientando os mais avançados conceitos do empreendedorismo atual, baseia-se na ideia da abundância suficiente para todos. E esse novo paradigma se sustenta no compartilhamento, na colaboração, na solidariedade, indiscriminada e incondicional. Ele ainda não é bem entendido em toda sua amplitude, mas as suas raízes já sustentam a nova mentalidade. Agora é só uma questão de expandir o campo da consciência para que ele se estabeleça definitivamente.

A diversidade e a multiplicidade de talentos cria o tapete do sucesso na prosperidade individual, e gera o progresso coletivo. Este é o caminho para o resgate da felicidade, a única meta possível de satisfazer a alma humana, pois ela é a essência da nossa natureza, que ainda se encontra escondida por trás de um ego que foi superestimado; que se tornou a restrição ao alcance da felicidade.

A felicidade só será alcançada através da liberação do ego, para servir, compartilhar, colaborar e multiplicar; ela é a essência do amor solidário e incondicional que tempera a alma humana. É o sentimento puro que brota do recanto mais profundo da alma humana, e como o sol, não escolhe momento nem ocasião, nem faz distinção entre seres ou coisas – simplesmente acontece, desabrocha e solta a fragrância do ser.

Ser feliz é o resgate da nossa essência mais pura e natural, e acontece através da autorrealização, que, por sua vez, depende do bem que se faz aos outros na aplicação dos nossos talentos particulares. Esse mergulho em nosso universo interior para o auto-resgate e autorrealização – a felicidade – se faz pelo autoconhecimento.

Luìz Trevizani