Nossos Julgamentos São Sempre Injustos

Quantos enganos nós ainda cometemos em nome da ignorância! Quantos julgamentos insensatos e condenações sumárias nós executamos sem antes rever nossos próprios posicionamentos dentro do cenário no qual nos vemos envolvidos com os outros, sem antes examinar nossa própria consciência e comparar nossas próprias atitudes na relação com aqueles que são objeto do nosso conflito interior!

A constituição de uma personalidade orgulhosa nos impele a pensar que somos esse pequeno ego com o qual nos identificamos separados dos outros, e nos impede de enxergar o que está dentro do corpo que a constitui – nossa realidade espiritual; o que somos em verdade e vida. E nessa realidade espiritual o que nos diferencia são apenas os níveis da consciência na relação com o patamar evolutivo de cada um.

A diversidade está na unidade; a humanidade está no indivíduo – uma ofensa contra um ser humano ofende toda a humanidade. Indo mais fundo, o desprezo a uma forma de vida qualquer é a ingratidão pela própria vida, que não se distingue além das formas que a manifestam. A mesma vida que tem forma humana está no animal, no inseto, no verme, no vegetal, no mineral, e o que diferencia as suas manifestações são a quantidade e a qualidade da consciência e da inteligência que cada elemento ou organismo contém, e o nível da consciência que estabelece o seu patamar evolutivo. A vida é o impulso da evolução, das mais baixas formas aos mais elevados picos da consciência – é o que eu imagino, porque não encontro objeção da vida em se manifestar onde quer que haja uma oportunidade.

Portanto, quem somos nós para julgar e condenar os outros pelas diferenças, por suas escolhas, ou por seus atos impensados? Cabe-nos a responsabilidade da compreensão, da compaixão, da educação, do aconselhamento, da colaboração para o seu crescimento, a sua maturidade emocional e o desenvolvimento da razão. O julgamento vem da separação criada pelo ego – eu. O eu identificado com a personalidade não representa o que somos, mas uma apresentação temporária.

Ao rejeitar o outro porque ele não se enquadra dentro das nossas fronteiras do ego e nos limites das nossas crenças, é como lutar contra uma gosma pegajosa presa ao nosso corpo – quanto mais nos esforçamos para nos livrar da lama grudenta que nos anoja mais ela se adere em nós. E ainda poderá ser nossa veste em futura personalidade, para que aprendamos a não julgar.

Brasileiro, americano, europeu ou asiático, cristão, judeu, muçulmano, espírita ou espiritualista, hinduísta ou budista, rico ou pobre, branco, amarelo ou negro, honesto ou desonesto, certamente, grande parte dessas experiências já foram as nossas pelas nossas centenas, ou milhares de passagens por aqui. Como podemos nós agora desejar nos livrar dos outros que não são do nosso agrado, se eles são aquilo que nós também já fomos, no passado, ou seremos no futuro?

“Bandido, ladrão, criminoso”, e outros tantos qualificativos que lançamos mão contra aqueles que nos desagradam, repercutem de nossas próprias memórias mais profundas e são os gritos de socorro, vindos das profundezas da consciência aturdida pela sombra que negamos iluminar, por medo de nós mesmos, por medo de encarar nossa própria história cheia de episódios sórdidos, talvez piores que esses que presenciamos agora, porque no passado, quando éramos menos evoluídos que somos hoje, derramamentos de sangue eram motivos de jubilosas festas, como nos circos romanos de antigamente. No entanto, ainda repetimos os mesmos hábitos de julgar e condenar, nos outros, aquilo que nos perturba intimamente, em vez de nos perdoar mutuamente iluminando a sombra que nos persegue há milênios.

Esses rótulos, no entanto, ainda podem ser reescritos na consciência, na emoção amadurecida que desponta na compaixão e no perdão pelo amor, que estabelece a cordialidade no elogio engrandecedor, estimulando e incentivando o outro na sua escalada evolutiva. Ao doente se dá o remédio que cura, não o veneno que agravará seu estado débil.

Todos nós recebemos as mesmas oportunidades de evoluir, mas escolhemos o tempo em que as haveremos de aproveitar. Temos o livre arbítrio a nosso favor, ou contra nós, para isso. Mas não nos iludamos porque, esse espaço de tempo e liberdades é transitório e nossa evolução tem prazos a cumprir-se. Talvez uma maneira razoável de entender o que seja o nosso livre arbítrio é compará-lo ao caminhar por uma longa estrada, na qual podemos apressar o passo, ou sentar e descansar, ou andar em círculos e brincar, nos distrair enquanto o tempo passa; podemos andar mais depressa ou mais devagar, satisfazer nossos desejos ou aprimorar nossos instintos e paixões em emoções mais amadurecidas na compaixão que floresce no amor e na sabedoria.

Evoluir é o processo contínuo de desenvolvimento da inteligência e expansão da consciência, que consiste na iluminação dela mesma, na renovação constante das atitudes que se elevam em sentido e amor, em compaixão, em bondade, em generosidade e fraternidade, que se consolida, pela nossa humanização em espiritualidade.

Nossas percepções de tudo são relativas, nossos entendimentos são relativos, e nossos julgamentos, dessa maneira são relativos também, porquanto são sempre injustos. A verdade ainda está longe da nossa compreensão, e o nosso entendimento dela é só uma pequena porção envolta ainda em grosso manto de ignorância.

A nós, no estágio evolutivo que nos encontramos, não há prática diária mais eficaz que a do perdão. Cada encontro traz a oportunidade de se perdoar, o outro e a si mesmo, libertando-se dos liames do passado guardados nas memórias esquecidas pelo nascimento no corpo físico, entendendo que todos os encontros são por afinidades, por sintonia – quais nós não lembramos. E a saudação em cada encontro em vez de bom dia, olá, oi deveria ser “sinto muito, me perdoe, te amo, sou grato”.

Por mais que acreditemos na separação, nunca uma gota retirada do oceano deixará de ser o oceano. Por mais que acreditemos na separação da humanidade, por raças, religiões, ideologias, nacionalidades, bondade e maldade, o ser humano nunca deixará de ser a humanidade. E a humanidade está toda entrelaçada por fios mentais, invisíveis à nossa percepção ainda, mas que é tão real quanto são todas as coisas que tocamos e sentimos fisicamente.

“Ama o teu próximo como a ti mesmo”. Isto te será o suficiente, e sobre este axioma se assenta toda ética; todo o resto é apenas comentário. Agora vá e aprenda!

Luìz Trevizani