A Corrupção Começa no Sentimento Corrompido

A corrupção, enquanto parece ser um problema endêmico na sociedade, com raízes nas estruturas políticas e no estado, na verdade ela é mais um mecanismo resultante dos falsetes interiores do ser humano, que começa na falsidade do sentimento e se projeta no comportamento, na sociedade, no mundo, através de suas estruturas políticas e sócio econômicas.

Toda corrupção começa na falsidade do sentimento nas nossas relações com os outros.

A pequena mentira para justificar o atraso provoca o “efeito borboleta”, que, na soma dos diversos atos similares, de todos, cria a ambientação para a corrupção efetiva no suborno da autoridade política.

Tudo começa num ponto de partida. Um pequeno ponto, uma ação mínima, quase sem importância, ou pelo menos não observada com a devida atenção no que ela poderá se projetar no futuro.

Levar vantagem tornou-se quase uma lei na sociedade brasileira, principalmente, sem entrar no mérito de outras culturas e nações, abrindo portas à espreita de oportunidade de se manifestar enquanto houver egos insuflados por títulos, cargos, poder e autoridade. E a oportunidade atrai o corruptor que se locupleta no espírito fraco da personalidade no cargo, que carece de ética e moral.

As estruturas que formam o ego, são delicados filamentos de soberba e vaidades que elevam a personalidade a um ilusório patamar de poder e autoridade, frágil, porém, diante da moeda reluzente.

As ilusões metafóricas que o ego projeta na personalidade humana são claramente desviadas para as veredas da corrupção, primeiro do sentimento, porque ele precisa ser o primeiro a corromper-se para que o ato se exteriorize, depois no pequeno favor, que cresce no favor seguinte, que cobra no próximo, sempre regados a “bom vinho” de gratidão por parte do corruptor, até que o “bom vinho” se transforme, por “milagre”, em dividendos numa conta bancária no exterior.

Tudo começa, porquanto o sentimento estiver sendo corrompido.

O sentimento, como senso da alma na orientação da ética e da verdade, coerente com a consciência primordial precisa antes ser desviado de suas funções para que a corrupção possa ser materializada. No linguajar popular, é o que se propala por “vender a alma ao diabo”; o primeiro ato no palco da corrupção.

Aprendemos a falsear nossos sentimentos para obter alguma vantagem, que vai do reconhecimento e aceitação no grupo social, ao cargo almejado na empresa, e depois segue por outras veredas mais complexas nas quais nos tornamos presas devedoras dos favores dos “padrinhos” benfeitores, e daí por diante o caminho fica cada vez mais complicado e de difícil retorno à ética, porque o ego já foi insuflado.  

Portanto, sem ofender a ninguém, quase todos nós estamos corrompidos em algum grau.

Alguém me contou que, em determinado país europeu, no supermercado, os clientes precisam por uma moeda para retirar o carinho das compras e só recebe ela de volta se recolocar o carrinho no mesmo local. Isso nos parece bastante positivo, no entanto só está refletindo o quanto nós precisamos ser corrompidos para sermos “éticos”. Um contrassenso absurdo!

E por mencionar o fato, basta observar nosso próprio comportamento quando vamos às compras no supermercado – quantos devolvem o carrinho no mesmo local de onde o pegaram? É comum se ver vários deles estacionados nas traseiras dos veículos no estacionamento do supermercado. Do outro é claro, nunca do seu. Isso é uma das tantas bases da corrupção, já efetivada na prática, porque o ego que só percebe as próprias vantagens pessoais esquece de que, o que está fazendo aos outros é o mesmo que não gostaria que fizessem a ele próprio.

Em geral, será quem mais reclama da corrupção efetiva dos políticos e governantes.

Toda corrupção, portanto, começa pela quebra das bases da ética na adulteração do sentimento. A partir daí é um “efeito borboleta” e não se sabe até onde a onda chegará, nem qual será a sua força destrutiva na sociedade.

O resultado se projeta lá fora, na sociedade, nas ações que resultam em facilidades e vantagens, principalmente na política, mas nada disso é mais que a projeção da somatória dos nossos sentimentos corrompidos – da nossa carência de senso ético.  

A corrupção está impregnada nas entranhas da mente humana, como um mecanismo estrutural da natureza do ego, e precisa ser erradicada à força de comprometimento ético.

Luìz Trevizani – 31/03/2017