A Arte de Ajudar

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Ajudar os outros, ou primeiro pensar em si? – Eis uma questão delicada de se equilibrar na balança da consciência.

Primeiro de tudo precisamos entender que, ajudar os outros é quase uma arte que precisa ser aprendida, porque nem sempre aquilo que temos a oferecer como ajuda é benéfico ao outro.

Nas questões materiais é mais fácil, pois basta identificar a carência do outro e oferecer-lhe o devido auxílio – um copo d’água a quem tem sede, um prato de comida a quem tem fome, uma roupa a quem passa frio.

Já, quando a ajuda passa por um aconselhamento é que a coisa se complica, porque tendemos a avaliar a questão do outro pela nossa própria medida e incorremos, frequentemente, em intervenções sobre o seu livre arbítrio. É aqui que ajudar se torna uma arte a se aprender.

A insistência na imposição de um argumento, de uma fórmula para resolução dos problemas alheios, de um aconselhamento dirigido para uma via que é a nossa própria, mas que não é necessariamente a do outro, desrespeitando sua liberdade de escolha e sem oferecer-lhe os recursos para que ele próprio decida pelo seu melhor, será incorrer em interferência no seu livre arbítrio com a agravante de trazer a responsabilidade pelos resultados para quem o aconselha. Evidentemente que temos que considerar cada caso ao nível de consciência e de habilidades de cada um para responder por seus atos. 

Em geral, nós interferimos diretamente sobre o livre arbítrio dos outros impondo nossa própria fórmula – faça assim que vai dar certo, em vez de dizer, observe as seguintes alternativas e siga o seu coração.

Muitas vezes queremos ajudar o outro com tanta veemência, sem perceber que somos nó quem mais precisa enxergar aquilo que apontamos para o outro. Isso ocorre largamente no meio terapêutico. Observo que muitos terapeutas têm enorme dificuldade para entender isso; enquanto se esforçam para ajudar seus clientes são eles os que mais precisam ajudar-se e curar-se.

Na verdade, isso é um sinal do despertar apontado para a direção errada. Primeiro é necessário cuidar de si, para depois cuidar e ajudar os outros. Esse é o segredo do sucesso na arte de ajudar, que poucos respeitam. Cada um oferece aquilo que tem em si mesmo, porquanto, se doentes estiverem cuidando de doentes a doença se propagará; se desequilibrados estiverem aconselhando desequilibrados a desarmonia continuará. Porque ajudar é compartilhar aquilo que temos.

Então, antes de aconselhar observe em si mesmo como está a sua condição, e se não estiver em boas condições seja sincero, diga que não pode ajudar e o encaminhe a quem pode. Ou peça um tempo para refletir sobre a sua própria condição, ou para limpar seus próprios ouvidos e assim escutar as suas próprias palavras, pois assim também se aprende. Aliás, esta é a fórmula mais eficaz de se aprender – escutando as próprias palavras.

Luìz Trevizani - 01/06/2017