A questão do espaço e do tempo tem desafiado a humanidade desde tempos antigos. Embora a ciência tenha avançado enormemente na compreensão de seus aspectos físicos, como através das teorias da relatividade de Einstein, que descrevem a relação entre massa, gravidade e o espaço-tempo, ainda há um componente profundamente enigmático e subjetivo sobre a natureza do espaço e do tempo que escapa à nossa percepção comum.
Nós, seres humanos, somos fundamentalmente limitados pelos sentidos físicos que nos conectam à matéria. Essa ligação à matéria nos impõe uma perspectiva linear de tempo e um senso físico de espaço. No entanto, tradições espirituais, místicas e filosóficas frequentemente afirmam que essa experiência linear é apenas uma fração de uma realidade mais ampla e complexa, sugerindo que o “atemporal” ou o “não-espacial” é uma dimensão acessível apenas em estados de consciência elevados ou alterados, como nos sonhos, meditações profundas ou em momentos de intuição.
Emmanuel Swedenborg, místico e filósofo, destaca essa diferença de percepção entre o mundo material e o espiritual. Ele sugere que, no mundo espiritual, a noção de espaço e tempo não existe da forma que conhecemos, sendo substituída por “estados” — uma ideia que transcende as limitações físicas. O que no nosso mundo se manifesta como distância espacial ou passagem temporal, no mundo espiritual seria equivalente a mudanças de estado interior, seja de ser (essência) ou de existir (experiência).
Swedenborg e outros místicos nos convidam a refletir sobre a possibilidade de realidades além daquelas que os sentidos físicos nos oferecem. Na perspectiva espiritual, o tempo pode ser visto como uma sequência de experiências ou estados de consciência, e o espaço, como uma manifestação do ser e da proximidade ou distância espiritual entre consciências.
Quando tentamos entender essas realidades além do espaço e do tempo, muitas vezes falhamos porque nossas mentes estão profundamente condicionadas pela realidade física. Isso nos impede de compreendê-las de maneira completa. Ainda assim, tanto a ciência quanto a espiritualidade parecem reconhecer que existem dimensões da realidade que escapam à nossa atual compreensão, mas que, de alguma forma, influenciam nossa experiência de vida e nosso entendimento do cosmos.
A vida no mundo material parece nos ensinar algo valioso: que os limites de espaço e tempo são, talvez, instrumentos para o crescimento espiritual e intelectual. Ao ultrapassar esses limites, como em experiências intuitivas ou oníricas, somos capazes de vislumbrar, ainda que por breves momentos, uma realidade mais ampla e mais próxima do que místicos como Swedenborg chamariam de a “vida angelical” — uma existência mais profunda, sábia e harmoniosa, onde a nossa percepção é liberada das amarras da matéria.