O Mundo na Jornada de Autoconhecimento Pelos Caminhos do Tarô

É importante destacar que este artigo não tem a intenção de ser um estudo científico ou psicológico, nem pretende abordar de forma exaustiva ou definitiva o tema proposto para esta fase da jornada. Seu propósito é servir como um guia para orientar os estudos e reflexões durante o encontro ao vivo desta estação da jornada online.

“Honrai as verdades com a prática” (O Caibalion). O conhecimento gera responsabilidade e comprometimento, e a verdade só é alcançada por meio do conhecimento. Consequentemente, aquele que mais recebe, mais responsabilidades terá. Conhecimento sem responsabilidade e comprometimento é vaidade, presunção; torna inútil não só o conhecimento em si, mas também aquele que o detém.

Uma jornada percorrida por um caminho delineado pelos Arcanos Maiores do Tarô chega agora ao seu final. É crucial ressaltar que este final não representa o término de nossas buscas, estudos, reflexões e transformações; é meramente a conclusão de um roteiro específico, Pelos Caminhos do Tarô. Certamente, estamos diferentes de quando iniciamos a jornada: transmutamos um pouco de nossa antiga mentalidade e transformamos alguns maus hábitos, atitudes e comportamentos. Contudo, ainda não estamos prontos, e nem sequer vislumbramos quando ou como essa plenitude se manifestará.

Podemos acreditar que todos os caminhos foram percorridos, todas as provas, superadas; podemos imaginar que alcançamos a compreensão da harmonia entre o interior e o exterior, que atingimos nosso objetivo de sabedoria. No entanto, essa percepção é ilusória. Avançamos um passo, sim, mas retornamos ao ponto de partida para trilhar a jornada novamente, agora em um nível mais elevado na espiral da evolução. O amor ao conhecimento deve transmutar-se em amor pela sabedoria e pela verdade. Sabedoria e verdade são indissociáveis – ou, se preferirmos, faces da mesma realidade. Um ser humano torna-se sábio somente ao vislumbrar a verdade. 

Pelos Caminhos do Tarô

Na Estação 22 da Jornada de Autoconhecimento Pelos Caminhos do Tarô, concluímos os estudos e reflexões sobre os Arcanos Maiores, interpretados como um roteiro para a regeneração da consciência, atualmente obscurecida e aprisionada na matéria. Nesta etapa, abordamos o Arcano 21, O Mundo, símbolo da conquista do reino interior – um passo adiante no plano da autorrealização e do despertar da nova consciência espiritual. Agora, nos encontramos diante do último estágio deste caminho, e o roteiro percorrido atinge seu ponto culminante – não o fim do processo de autoconhecimento ou da jornada espiritual, mas a conclusão de mais um ciclo significativo.

O Mundo e o Reino da Vida Interior

O Arcano 21 é tradicionalmente denominado “O Mundo“. Em nossos estudos e reflexões Pelos Caminhos do Tarô, optamos por nomeá-lo “O Reino Interior“. É um convite a reconhecer que o verdadeiro poder reside em nosso mundo interior, o qual se reflete no mundo exterior. Quando alinhamos pensamentos, emoções e ações à Vontade Divina, não apenas transformamos nossa vida pessoal, mas também contribuímos para a elevação do mundo como um todo. Cada passo rumo ao autoconhecimento e à integração com o Todo aproxima-nos do Reino Interior, onde encontramos a verdadeira paz, a sabedoria e a plenitude.

Deus, o Criador primordial, originou o Cosmos. Do Cosmos, emergiu o Universo; do Universo, surgiu o Mundo; e do Mundo, o ser humano. Somos filhos e herdeiros do Mundo, mas para dominá-lo externamente, devemos, primeiramente, dominar nosso mundo interior. O Mundo, portanto, não é uma conquista a ser almejada, mas uma realização interior – a manifestação tangível de nosso desenvolvimento espiritual, a expressão de nossa capacidade de criar e transformar a realidade circundante.

Agora, compreendemos que o verdadeiro reino reside na harmonia entre os mundos interno e externo, na percepção de que todas as coisas são, em essência, uma só coisa, a Inteligência Suprema, manifestando-se em formas e expressões diversas. Em última análise, tudo emana do Criador primordial; tudo está no Todo e o Todo está em tudo.  

“O Mundo”, Arcano 21, nos lembra que a jornada da vida é tanto interna quanto externa, e que o sucesso supremo é alcançado quando conseguimos harmonizar essas duas esferas. Ele nos convida a celebrar nossas conquistas, mas também a olhar adiante, reconhecendo que sempre há novos horizontes a explorar e novas verdades a descobrir. Esse arcano é um lembrete poderoso de que, ao final de cada ciclo, somos recompensados com a oportunidade de iniciar um novo, mais sábios e mais conectados com o todo.

Ao final da jornada, a maior realização não se encontra nas conquistas externas, mas na profunda transformação interior que nos capacita a viver em harmonia com o Mundo e a cumprir o Propósito Divino a nós confiado.

A grandeza exige crescimento, um crescimento interior. A liberdade requer que rompamos as correntes do egocentrismo. A paz demanda que abandonemos nossas resistências e cessemos a luta, aceitando, com serena confiança, o Plano Supremo. A autorrealização no Mundo implica transcender o egocentrismo, cultivando a compaixão.

O Despertar no Quarto Caminho e a Autoconsciência

O sinal do despertar não é a paz, mas a inquietude, uma ânsia que emana do coração como um chamado da voz interior – a Voz do Silêncio. O despertar não traz tranquilidade imediata, mas sim, agitação. Contudo, essa agitação, quando compreendida, transmuta-se em paz e tranquilidade interiores. O Despertar é assumir a individualidade e desenvolver a autoconsciência.

Trilhamos o Quarto Caminho, uma senda singular que oferece a possibilidade de evolução consciente. Diferentemente dos três caminhos tradicionais – o do faquir, o do monge e o do iogue – o Quarto Caminho se manifesta em meio à vida cotidiana, exigindo vigilância constante e uma consciência desperta, mesmo diante das distrações e pressões do dia a dia. Nesta jornada, enfrentamos um desafio crucial: nossas oscilações de consciência, que nos tornam vulneráveis a inimigos insidiosos – vícios e condicionamentos sociais. Estamos imersos em influências externas, tendências efêmeras e padrões comportamentais que nos impelem à superficialidade. Modismos, o senso comum e as expectativas sociais frequentemente obscurecem nosso discernimento, dificultando a busca pelo autoconhecimento.

O Quarto Caminho, contudo, não propõe o afastamento do mundo, mas sim, um mergulho profundo na vida, com lucidez e presença. Gurdjieff, mestre e idealizador deste ensinamento, em sua obra “Em Busca do Ser”, lança luz sobre o início desta jornada, alertando-nos para a ilusão de que o caminho começa no nível da vida ordinária. Na verdade, ele se inicia muito além, em um patamar superior de entendimento e consciência.

Segundo Gurdjieff, somos regidos pela lei da acidentalidade, sujeitos a duas categorias de influências. A primeira, forjada pela própria vida, abrange fatores como raça, país, família, educação e costumes. Tais influências moldam nossa personalidade e nos direcionam conforme as circunstâncias, operando sob a lei mecânica da existência.

A segunda categoria, por sua vez, emana de fontes conscientes, do chamado círculo esotérico interno. Criadas por seres humanos despertos, essas influências possuem um propósito definido, encontrando expressão em sistemas religiosos, doutrinas filosóficas e obras de arte de profunda ressonância. No entanto, ao se mesclarem com as influências mecânicas da vida cotidiana, tornam-se imprevisíveis em seus efeitos (arquétipos).

O cerne do Quarto Caminho reside, portanto, em discernir as influências conscientes das casuais. E, mais crucialmente, em conectarmo-nos com aquelas que nos elevam, mesmo em meio ao turbilhão do cotidiano. A chave é a presença. O Quarto Caminho exige atenção plena, um estado de alerta constante para não sucumbirmos ao comportamento automático e inconsciente. Não se trata de isolamento, mas de operar em um estado de percepção expandida, no qual escolhemos, conscientemente, as influências que nos guiarão. A evolução no Quarto Caminho não é linear nem isenta de obstáculos. Exige esforço, disciplina, obediência e, acima de tudo, discernimento. Precisamos identificar as forças que atuam em nossa vida e utilizar aquelas que nos impulsionam para além das circunstâncias.

Nesta senda, somos convidados a cultivar um estado de consciência desperta quase permanente, um feito raro em um mundo saturado de distrações. É nesse desafio, porém, que reside a verdadeira oportunidade de transformação. O Quarto Caminho oferece um caminho de evolução em meio à vida comum, sem a necessidade de isolamento ou renúncia às responsabilidades. Nele, a prática se manifesta no cotidiano, no cerne de todas as influências que nos atravessam. A jornada é árdua, mas as recompensas são inestimáveis: a consciência desperta e o poder de cocriar a nossa realidade.

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