OS NÚMEROS, A RAZÃO, A SABEDORIA E A VERDADE

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Recebi de um amigo esta citação de Agostinho, o Santo, filósofo e teólogo da igreja católica (354-430 d.C.), solicitando que a explicasse:

"Para, Agostinho, a razão é que há de mais importante e sublime na natureza. Porém existem verdades que estão acima da razão : os números e a sabedoria. As leis dos números são imutáveis e verdadeiras e são igualmente imutáveis as regras da sabedoria. E conclui: o número e a sabedoria são verdades únicas e imutáveis, com isso Agostinho mostra que existe uma verdade suprema e absoluta, da qual provém outras verdades. Essa verdade é Deus".

Caro amigo!
Quem sou eu para, num belo domingo pela manhã ser surpreendido por uma solicitação de tamanha responsabilidade, com a incumbência de explicá-la?

Explicar uma ideia de um buscador da verdade, amante da sabedoria, um verdadeiro filósofo como foi Agostino, o Santo, é tarefa difícil. Mas tentarei, se não explicar pelo menos expor o meu entendimento raso alcançado até aqui.

Tentarei expor da maneira mais simples, pois a simplificação das coisas é o que as clarifica.

Para compreender a verdade precisamos desenvolver a sabedoria; para desenvolver a sabedoria precisamos buscar pela verdade. Mas, tanto a verdade quanto a sabedoria precisam ser partidas em pedaços cabíveis em nossa razão, se quisermos praticá-las.

A verdade se revela na medida da sabedoria desenvolvida, e a sabedoria se desenvolve somente quando começamos a busca pela verdade. Tanto a verdade quanto a sabedoria se revelam na linguagem intuitiva, e para compreendê-las precisamos da razão.

“A razão é que há de mais importante e sublime na natureza”.

A razão é produto da inteligência que só o ser humano possui e desenvolveu a esse ponto de poder extrair a lógica das coisas pela observação, comparação, discernimento e conclusão.

A razão só é possível ao nível da inteligência que o ser humano possui, não sendo ainda atributo dos animais, mesmo daqueles que convivem com os humanos e lhes compreendem as emoções e os sentimentos, se expressam numa linguagem própria e esboçam pensamentos descontínuos. Esses animais não são capazes de produzir a razão, pelo fato de que ainda não desenvolveram o pensamento contínuo.

O ser humano, portanto, possui o mais elevado grau de inteligência dentre todos os seres viventes, nos três reinos da natureza; e é o único capacitado a produzir a razão.

“Porém existem verdades que estão acima da razão: os números e a sabedoria.”

A razão não é a verdade, porquanto ela é um sistema que proporciona ao ser humano compreender a verdade em partes de acordo com seu desenvolvimento da inteligência que o capacita a produzir mais razão. A verdade precisa da razão para ser compreendida, e a razão precisa de mais inteligência para se tornar um produto mais eficaz dela.

Agostinho diz que os números e a sabedoria são verdades acima da razão. A razão, como já disse não é a verdade, mas o meio pelo qual a compreendemos. Então é coerente o que diz Santo Agostino – os números e a sabedoria estão acima da razão. E, é pela razão que compreenderemos os números e desenvolveremos a sabedoria.

Os números estão subjacentes a toda criação. Todas as formas de manifestação da natureza são formas ou fórmulas matemáticas. Os números formam o quadro da engenharia sideral, e ainda são possíveis de serem lidos para compreender a sabedoria oculta em suas formas e fórmulas, pois eles são uma linguagem universal.

A sabedoria é um grau mais elevado da razão alcançado por meio do desenvolvimento da inteligência. E isso só é possível de ser feito gradativamente, porquanto, para processar mais inteligência os aparelhos físico e intelectual precisam se adequar pela evolução – no plano físico, o sistema nervoso; no plano mental o intelecto. Talvez esta seja uma maneira razoável de compreender o mecanismo da inteligência e da razão para abarcar a sabedoria.

“As leis dos números são imutáveis e verdadeiras e são igualmente imutáveis as regras da sabedoria.”

Os números não mentem, são portadores contumazes das verdades eternas. Não nos deixam brechas à contestação. O ser humano pode manipular informações, jamais a verdade absoluta; pode engendrar suas próprias “verdades” relativas, mas jamais poderá desmentir o que os números revelam da verdade absoluta.

As leis supremas da criação são imutáveis, assim como a sabedoria tem suas regras próprias que não podem ser modificadas. A compreensão parcial da sabedoria pode sofrer adulterações, pois ela é só um pedaço dela cabível no espaço da consciência desperta do ser humano, mas isso não a deforma na sua totalidade absoluta.

Sabedoria e verdade são quase a mesma coisa, pelo menos ao nível de nossa compreensão atual. Não se alcança a verdade absoluta sem ter desenvolvido a sabedoria, e não é possível desenvolver a sabedoria senão pela busca da verdade. Um intrincado e complexo sistema que trabalha em uníssono.

“E conclui: o número e a sabedoria são verdades únicas e imutáveis, com isso Agostinho mostra que existe uma verdade suprema e absoluta, da qual provém outras verdades. Essa verdade é Deus."

A Verdade Absoluta é suprema a toda forma de compreensão dela mesma, por parte do ser humano ainda incapacitado para absorvê-la em sua totalidade, pois essa compreensão total da verdade depende da evolução do ser humano a níveis mais elevados de consciência, e a um grau de inteligência tal que lhe é possível transpor os limites que a matéria lhe impõe à visão cósmica.

A Verdade Absoluta é Deus, não o deus antropomórfico das religiões, a Inteligência Criadora, infinita e eterna, que tudo permeia - Inominável, embora usemos uma palavra que contenha a ideia cabível em nossa razão, a palavra Deus.

Somente pelo olho de ver, o Olho de Hórus, avistaremos a verdade absoluta. E esse olho se abre na medida em que os olhos físicos se fecham.

Portanto, caro amigo, desandei a filosofar e compliquei ainda mais a coisa, ao que parece. Há duas razões para isso – a primeira é que estou amando ser um buscador da verdade por amor à sabedoria; a segunda é que estou me viciando nessa coisa de ser escrevedor (um arremedo de escritor).

Espero não tê-lo frustrado.

Um fraterno abraço!

Luìz Trevizani - 17/09/2023