O SER HUMANO, SEUS DESEJOS E SUAS PAIXÕES

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O ser humano ainda é, em grande parte, dominado por seus desejos e suas paixões e age mais como animal do que como humano. É só observar como são as suas reações diante das contrariedades para que isso fique evidente. Se faz calor, ele reclama; se faz frio também. A chuva lhe atrapalha; o Sol é motivo de doença para ele, quando na verdade é a fonte mais rica de vida e saúde. 

Virtudes e valores relacionados à ética são esquecidos quando se trata de obter vantagem sobre o seu semelhante – nos negócios, na política e até na religião, nas disputas diversas visando obter vitórias sobre aqueles que são carimbados como seus adversários.

Movido por suas paixões e centrado em seu próprio ego, caminha por um desfiladeiro espinhoso dilacerando sua própria alma e deixando um rastro de misérias e sofrimentos por onde passa. Muitas vezes, a piedade lhe toca o coração e como que para se livrar da culpa empreende ações de bem.

O misterioso ser humano vai se revelando e se conhecendo a si mesmo e aprendendo pelos contrastes a que se expõe. Oscilando entre o bem e o mal, experimentando a dor a e o prazer, aprende a fazer as escolhas que dão resultados mais próximos da felicidade. Nesse jogo de bem e mal sobrecarrega sua alma de culpa e tem dificuldade para se perdoar e entender que tudo isso faz parte do mecanismo da evolução. O erro ensina a evitar o mal porque causa dor e sofrimento; o acerto ensina que a felicidade é a paz profunda que resulta do bem.

Todas essas coisas nos são ensinadas há milênios e estão registradas nas páginas douradas dos livros de sabedoria e na memória dos exemplos deixados pelos grandes Mestres.

Dentre os incontáveis livros escritos por sábios educadores da humanidade destaco CORPUS HERMETICUM e transcrevo aqui um trecho do diálogo entre Hermes Trismegisto e Asclépio, na página 234, intitulado Piedade.

Não seria necessário fazer nenhum comentário, nem mesmo essa introdução nesse artigo, porém, creio que dessa maneira nossas reflexões serão mais profundas.

Piedade
“A regra desse ente duplo que é o ser humano é, antes de mais nada, a devoção – que tem como consequência a bondade. Todavia, a bondade perfeita só é alcançada quando a virtude do ser humano o preserva das paixões e o faz desprezar tudo o que é estranho a ela. É que as coisas terrenas, que o corpo deseja possuir, são estranhas a tudo o que nele é divino. Elas podem ser chamadas de possessões, pois não nasceram conosco, mas foram adquiridas por nós depois do nascimento; por isso, elas são estranhas ao ser humano, e o próprio corpo nos é estranho, de modo que é preciso desprezar tanto o objeto do desejo quanto o que nos torna acessíveis ao desejo. Do rigor deste raciocínio decorre que o ser humano só é de fato humano quando, pela contemplação da divindade, ele despreza e desdenha a parte mortal que lhe foi dada pela necessidade, a fim de que ele cuidasse do Mundo Inferior” (Corpus Hermeticum, Hermes Trismegisto, Ed. Polar).

Luìz Trevizani – 01/10/2023