CREPÚSCULO

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Devemos nos contentar e aceitar aquilo que recebemos. Nosso merecimento foi traçado por nós mesmos e o carma gerado por nossas escolhas se sobrepõe às nossas lamentações e à nossa ignorância, não como castigo aplicado por um juízo de valores, mas pela ação direta e automática de causa e efeito.

A escolha foi nossa, a humanidade escolheu o caminho do decaimento na matéria, afastou-se do Criador de Tudo e escolheu uma ciência reducionista para o seu progresso e resolução dos seus problemas, em detrimento da sabedoria intuitiva – o caminho do ego; o ser humano se tornou egocentrado.

Na ânsia de encontrar o elo perdido com o Criador de Tudo, o ser humano ergue templos e neles entoa cânticos e orações de louvor e se apega a dogmas e rituais na esperança de encontrar a paz perdida, numa corrida cega por estranhos e desconhecidos labirintos em busca da luz da consciência que se obscureceu na materialidade.

Não lembra mais que essa luz é interna e está no âmago de si mesmo; que o reino buscado é a sua própria vida interior.

Havia possibilidade de ser outro o caminho, mas a escolha feita foi pelo caminho de Caim – somos violentos por escolha, não por atributo do Criador de Tudo. Ainda não entendemos isso e nos queixamos e acusamos o Criador de Tudo de nos ter criado para sofrer.

Poderíamos ter escolhido o caminho de Abel, o caminho intuitivo do amor e da sabedoria.

Nossas lutas são decorrentes da ignorância que encobre a nossa visão profunda da realidade, e as guerras são nada mais que momentos de eclosão da violência que nutrimos internamente em nossos pensamentos, emoções e sentimentos, dos nossos conflitos internos e das nossas desavenças cotidianas.

Na obscuridade da consciência envolta pela matéria não vemos senão mais que um crepúsculo num cenário que não sabemos se é o anoitecer ou o amanhecer devido ao nosso sono profundo.

Somos semelhantes ao caranguejo que sai de sua toca e logo retorna a ela; somos temerosos de nos aventurar pela vida confiantes no amor e na intuição em busca de sabedoria, e nossa fé não é suficientemente firme e forte na contemplação da eternidade da vida; ainda tememos a morte porque ignoramos a sua real dimensão.

Nossa visão turva é só um lusco-fusco pálido da realidade. Acreditamos na mentira e na ilusão das sombras projetadas nas paredes de nossa caverna e nos recusamos a sair dela para encarar a vida em sua plenitude de amor e sabedoria.

Luìz Trevizani – 08/03/2024